Governabilidade de Biden e planos de Trump estão em jogo em eleição nos EUA

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Foto: Saul Loeb/AFP

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Além de todos os 435 assentos da Câmara dos Representantes e de 35 das 100 cadeiras do Senado, a própria governabilidade de Joe Biden e as pretensões políticas do ex-presidente Donald Trump estarão em jogo nas eleições legislativas de amanhã. As mais recentes pesquisas indicam que o Partido Democrata perderá o controle da Câmara para o Partido Republicano, na oposição desde 2020, quando Biden venceu e impediu o magnata de se reeleger. O desastre poderá ser ainda pior: a maioria democrata do Senado está por um fio, e as sondagens apontam resultado em aberto. Especialistas acreditam que, caso os governistas deixem de ter o domínio da Câmara, Biden terá extrema dificuldade para governar e poderá se transformar em “pato manco” — um presidente sem expectativa de poder e, por circunstâncias alheias, incapaz de governar de fato.
As eleições de amanhã ocorrerão à sombra do pleito de 2020, quando Trump tentou instilar o ódio de simpatizantes ao alegar fraude, mesmo sem provas. Na última quarta-feira, Biden advertiu que a não aceitação do resultado das urnas “abre o caminho para o caos”. “Em um ano normal, não somos frequentemente confrontados com o questionamento se o voto que damos preservará a democracia ou a colocará em risco”, declarou o presidente.
Líder da minoria republicana na Câmara, Kevin McCarthy, criticou Biden por supostamente “não tratar das principais preocupações dos americanos”. “Os republicanos vencerão de forma convincente e ajudarão a colocar os Estados Unidos de volta nos trilhos”, escreveu no Twitter. O otimismo de McCarthy é compartilhado por Trump. “Muito, muito, muito provavelmente o farei de novo”, disse o ex-presidente sobre outra candidatura presidencial. “Preparem-se, é tudo o que digo. Em breve”, afirmou, na noite de quinta-feira, durante comício em Iowa. “Vamos recuperar o Congresso, vamos recuperar o Senado. E em 2024, recuperaremos nossa magnífica Casa Branca.”
Diretor de Experimentos da campanha de Barack Obama, em 2012, e professor de ciência política da Temple University (na Filadélfia, Pensilvânia), David Nickerson afirmou ao Correio que as pesquisas recentes indicam uma ampla derrota dos democratas na Câmara dos Representantes. “O controle do Senado é uma questão de loteria, neste momento. Parece muito improvável que os democratas possam manter a maioria em ambas as câmaras do Congresso”, previu.
De acordo com Nickerson, independentemente do resultado da votação de amanhã, os republicanos prejudicaram a capacidade de Biden de aprovar legislações, ao bloquearem projetos de lei no Senado. “Se os republicanos ganharem o controle da Câmara, eles impedirão a passagem de toda a legislação e começarão a usar seus poderes de investigação para envergonhar o governo Biden. Caso os republicanos obtenham o controle do Senado, Biden não será capaz de nomear nenhum juiz para a Suprema Corte, pois os republicanos se recusarão a confirmá-los”, advertiu.
Por isso, o especialista aposta que Biden terá dificuldades em cumprir muito de seu plano de governo e será forçado a lançar mão de ordens executivas com uma frequência maior do que Barack Obama. Para David Barker, professor de governo e diretor do Centro para Estudos Legislativos e Presidenciais da American University, os democratas quase certamente perderão a Câmara — provavelmente cerca de 25 assentos — e têm uma chance de 50% de perderem o Senado.
Barker acredita que Biden será um “pato manco” nos últimos dois anos de mandato. “Geralmente, presidentes não fazem muita coisa na segunda metade de mandato, pois as atenções costumam se focar na próxima eleição. Se os republicanos tomarem uma das Casas do Congresso, Biden e os democratas não aprovarão nenhuma legislação significativa. No entanto, o presidente ainda terá considerável poder na política externa, e espero que ali ele focará toda a sua energia.”
Cautela
Timothy Patrick McCarthy, professor de história americana da Harvard University, atribui aos fenômenos da manipulação e do redistritamento a provável causa da perda de controle democrata na Câmara. O redistritamento é a maneira como se muda os distritos que representam os eleitores. A Constituição dos EUA estabelece que os distritos legislativos tenham populações aproximadamente iguais. “Dado o número extremo de candidatos e de lideranças republicanas neste ciclo eleitoral, bem como outros fatores, estou cautelosamente otimista de que os democratas manterão o controle do Congresso”, disse ao Correio.
McCarthy prevê que a maioria da Câmara será decidida por uma margem mínima, independentemente de qual partido tem o controle. “Vejo a possibilidade de os democratas conquistarem entre três e quatro cadeiras no Senado. Há uma aumento de afluência democrata na votação antecipada, no registro de novos eleitores e nos resultados de pesquisas em disputas mais apertadas para o Senado, especialmente em Ohio, Carolina do Norte, Flórida, Wisconsin, Arizona e Geórgia. Isso é um bom presságio para democratas na reta final que antecede o dia da eleição”, explicou.
Em caso de os democratas perderem o comando do Senado e da Câmara, McCarthy disse temer que os republicanos farão algo ainda pior com Biden do que transformá-lo em um pato manco. “Eles deixaram claro que pretendem começar os procedimentos de impeachment — por qual razão, não faço ideia — e tentarão reverter, ou revogar, tudo o que o atual governo conquistou na primeira parte do mandato”, advertiu. Ainda de acordo com o professor de Harvard, se os republicanos forem fiéis às suas promessas, o retorno deles ao poder no Congresso representaria uma importante ameaça aos direitos humanos, às liberdades individuais, ao Estado de direito e à democracia. “Estamos em um declínio acentuado aqui nos EUA, e maiorias republicanas no Congresso tornariam essa inclinação ainda mais escorregadia.”

 

Por: Rodrigo Craveiro – Correio Braziliense

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