EDITORIAL O REPORTER DO PAJEÚ BRASIL ‘SEM AR’

0

Hits: 0

Manaus é aqui. O desespero dos amazonenses não é consequência de um desastre natural, como se fôssemos pegos de surpresa por uma tormenta ou um terremoto de trágicas proporções. Há quase um ano convivemos com a pandemia. E hoje, quando o mundo vira a esquina de 2 milhões de mortes – das quais cerca de 600 mil
somente nos Estados Unidos e no Brasil, juntos – podemos ao menos contar com diversas vacinas testadas contra a Covid-19. O investimento maciço na ciência levará alguns meses para dar resultados, até porque a produção, distribuição e aplicação de substâncias imunizantes para bilhões de seres humanos não se dão da noite para o dia. Mesmo assim, a aplicação de recursos e a união de esforços técnicos e intelectuais revelaram o acerto de um dos caminhos essenciais para se combater a doença: a opção pelo avanço do conhecimento, efetivamente conquistado por cientistas, médicos e demais profissionais de saúde, na dolorosa trajetória do aprendizado na pandemia. O que assistimos em Manaus, e já vimos, em menor escala mas não menos grave, noutras cidades como o Rio de Janeiro, é o destino encontrado no caminho da negligência social. Uma escolha de parte da população, com o respaldo da má influência política de líderes desconectados da realidade e sem o menor compromisso com o caminho aberto pela trilha da confiança na capacidade científica da humanidade. Sob o argumento da falta de necessidade do distanciamento recomendado pela ciência, e pelo desleixo com as medidas básicas de proteção individual, criou-se o ambiente favorável à disseminação
do coronavírus, no Brasil e em vários países. Como o problema se acentua nos lugares em que a aglomeração
dionisíaca, a exemplo do Carnaval, é traço cultural costumeiro, o povo brasileiro está pagando o mortal e amargo preço da omissão de muitos – capitaneada pela desorientação escolhida como prumo pelo Palácio do Planalto. Jair Bolsonaro é parte dessa escolha coletiva. Sua responsabilidade é maior pelo papel que detém como
presidente da República. Porém, está longe de ser o único responsável pelo cenário apocalíptico em Manaus,
ou pelo caos no sistema de atendimento hospitalar em todo o território nacional, gerado pela contaminação do descaso. Em relação à capital do Amazonas, a configuração do transporte coletivo em barcaças apinhadas de gente, pelos rios, e a estrutura precária dos serviços de saúde nos demais municípios, contribuíram para que Manaus se tornasse o pesadelo dos brasileiros. No pulmão da Terra, o Brasil está sem ar. Asfixiada pela desinformação, parcela da população acha que a vida continua, em plena pandemia. E assim já se foram mais de 200 mil entes queridos. Num ambiente infectado, até a vacinação é desacreditada. Onde o ar é escasso, mas persiste, vamos aproveitar o oxigênio para gritar
em coro: pelo uso de máscaras, pelo bom senso, pela aprovação urgente das vacinas que precisam chegar logo – antes que Manaus venha a ser apenas o presságio.

About Author

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *