Editorial: |O aumento das dívidas

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Com o desemprego recorde de 14,2% no trimestre encerrado em janeiro, são 14,3 milhões de brasileiros sem trabalho no País. Em comparação com o mesmo período de 2020, antes da pandemia, a legião de desempregados teve um aumento de 2,4 milhões de pessoas, de acordo como IBGE. A recuperação dos empregos está em curso, segundo os analistas, enquanto também sobe a taxa de informalidade, beirando os 40% da população economicamente ativa. Quase 6 milhões de indivíduos compõem outro grupo preocupante, que soma aqueles sem trabalho que não puderam sequer procurar uma vaga, os chamados desalentados. Na conjuntura de aperto, todos se viram como podem. O que significa ir atrás de remuneração informal, sim, mas também de crédito para suprir despesas inadiáveis. O endividamento, então, aumenta na proporção em que o emprego formal diminui. Em março, o percentual de famílias endividadas chegou a 67,3%, ou seja, praticamente duas em cada três famílias no Brasil possuem dívidas para quitar. Num momento de crise na saúde e na economia, a bola de neve do endividamento é um risco real não apenas para o planejamento familiar, mas também para os planos de retomada do crescimento econômico. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revela o quarto incremento consecutivo na trajetória das dívidas. Uma tendência que acende o sinal de alerta para as dificuldades pela frente. Sem a rápida criação de postos de trabalho que restaurem os mais de 8 milhões de empregos perdidos com a pandemia, a crise pode se aprofundar, lançando milhões de brasileiros na inadimplência e gerando prejuízos em cascata para o mercado. A parcela dos inadimplentes é de 10%, mantendo-se estável no quadro pesquisado. O fechamento do comércio e dos serviços como imperativo das medidas restritivas no combate à pandemia tem trazido efeitos de médio e longo prazos, além dos impactos imediatos sobre a economia. O desemprego permanecendo em alto nível, por outro lado, pressiona a renda familiar para baixo, elevando os riscos e o grau de endividamento. Mesmo com a volta do auxílio emergencial, desta vez em valores menores, a recomposição do rendimento das famílias depende da retomada da economia e do retorno sustentável de geração de empregos. A continuidade de uma conjuntura desfavorável que começa no descontrole da Covid-19 é o pior cenário para a economia como um todo, e também na perspectiva da renda e da qualidade de vida das famílias. Há um consenso que reúne os analistas do mercado, os pesquisadores dos institutos de estatística e os gestores de saúde pública. A saída para o aumento das dívidas é o mesmo para o retorno das atividades em sua plenitude: apenas com o maior ritmo de vacinação e a esperada redução da ocupação de leitos hospitalares e do número de mortes, haverá confiança para a reestruturação da economia. A saúde econômica depende do controle da pandemia.