Crime de racismo deve ser mais rígido para quem o comete.

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A coluna do Domingão no blog do Nill Júnior, mostra que o racismo pode até ser perdoado mas não anistiado. Virou moda. Primeiro, se comete o crime: racismo, atentado à democracia, homofobia, xenofobia e defesa de trabalho escravo.
Depois, a repercussão, o cancelamento nas redes, a grita por justiça diante de uma legislação que existe para ser cumprida.
O terceiro passo é o pedido de desculpas, sempre agregado à um “fui infeliz nas minhas declarações”, “fui mal interpretado”, “a fala foi tirada de contexto”, “lapso mental”, sempre com um “peço desculpas se ofendi alguém” ao final.
Em Serra Talhada, um jovem identificado como Jefferson cometeu crime de racismo abertamente, de cara limpa, numa gravação para sua rede social.
“Eu abomino negro, não gosto de negro, abomino negro, não sei nem o que aquela negra está fazendo lá dentro. Eu agora deveria virar negro, porque o Brasil quis a negra, então. Eu venho aqui para todo mundo para dizer que eu abomino negro. Eu não gosto de negro, até porque minhas amizades são poucas e para chegar perto de mim tem que usar perfume, não use colônia não. Negro é podre, ridículo, não gosto”, diz o jovem no vídeo que viralizou.
Claro, veio a revolta da população serra-talhadense, assim como a repercussão na imprensa. O movimento negro cobrou justa responsabilização. O delegado Assis Moreira instaurou um inquérito. Racismo é crime com pena de reclusão e multa.
E agora? Agora Jefferson pede desculpas. Em um texto lido, sem a mesma espontaneidade e firmeza da declaração original, pede desculpas. “Reconheço que ouvi palavras de conteúdo racista, que não condiz com minha personalidade. Errei, já prestei meu depoimento na Delegacia e vou responder por isso”, diz, sabendo que o fará em liberdade.
No começo do mês, o vereador Sandro Fantinel, de Caxias do Sul, publicou um vídeo nas redes sociais se desculpando por ter feito declarações xenófobas contra baianos encontrados em situação análoga à escravidão.
“Registro que tenho muito apreço ao povo baiano e a todos do Norte e Nordeste do país. Em um momento de lapso mental, proferi palavras que não representam o que eu sinto pelo povo da Bahia e do Norte e Nordeste”, disse. Chegou a falar em “lapso mental”.
Isso depois de o “Fantinel real” dizer que empresas e produtores rurais deveriam contratar funcionários “limpos” para a colheita da uva, e não deveriam buscar “aquela gente lá de cima”. O político referia-se a trabalhadores resgatados em situação de escravidão na serra gaúcha. Eles foram resgatados na quarta-feira (22) em situação análoga à escravidão.
Ainda em sua fala, o parlamentar “orientou” a contratação de argentinos. “São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa, e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam”. Depois que a casa caiu, com pedido de cassação, MPF em cima e cancelamento, veio o “foi lapso” e “me desculpem”.
Nos atos antidemocráticos de janeiro, muito pseudo patriota metido a valente, vendo o Supremo chegando à sua cola pela afronta à democracia mudou o discurso. “Sou a favor da democracia. Jamais apoiaria atos antidemocráticos. Quando pedi a volta dos militares fui mal interpretado. Peço desculpas a quem ofendi”.
Em todos esses casos, há de separar o que é perdoar e o que é responsabilizar. Perdoar é um sentimento cristão, humano, necessário em sociedade. Há casos extremos e emocionantes de pessoas que perdoaram os próprios algozes. O papa João Paulo II nos ensinou ao perdoar e orar com Mehmet Ali Agca, o homem que quase o matou. Mas até ali está a base dessa reflexão. Perdoar não é necessariamente deixar de punir. Tanto que esse gesto histórico ocorreu em 27 de dezembro de 1983 na prisão Rebíbia de Roma, onde o agressor estava preso. Ele pagou pelo erro que cometeu.
Assim, mesmo que o lado humano perdoe o racista de Serra Talhada, o vereador xenofóbico e os organizadores dos atos antidemocráticos, isso não os exime do crime original. Devem pagar com o rigor da lei, não só por eles, mas para evitar que parte da sociedade crie pertencimento sobre o direito de, diante da dor que causaram com atos e palavras, sair impune. Perdoar, sim. Anistiar, nunca!